O cérebro apresenta um mecanismo extremamente eficaz para manter estável o seu fluxo sanguíneo. Em situações de pressão arterial baixa ou alta, acidez ou alcalose do sangue, nosso cérebro mantém o nível ótimo de perfusão sanguínea, também chamado de autoregulação cerebral. Quando esse mecanismo é afetado, o risco de isquemia cerebral é aumentado.
São as várias as formas de se testar a vasorreatividade cerebral e sem dúvida alguma a testagem com o Doppler transcraniano é hoje a mais utilizada em todo o mundo. No Instituto do Cérebro de Brasília utilizamos a prova de apnéia voluntária não forçada (Breath Holding Index). Durante a prova medimos a velocidade de fluxo em artérias cerebrais médias e então solicitamos ao paciente que faça uma apnéia de 30 segundos. A apnéia leva a uma retenção de gás carbônico que por sua vez reduz o pH do sangue. Esse é um estímulo que provoca dilatação das pequenas artérias do cérebro, aumentando a velocidade de fluxo nas artérias maiores. A relação entre a velocidade de fluxo pré-apnéia e pós-apnéia é calculada gerando o Índice de Apnéia.
São várias as doenças que podem afetar a vasorreatividade cerebral: fatores de risco vascular como dislipidemia, hipertensão arterial e diabetes, doença de Alzheimer, síndrome da apnéia obstrutiva do sono (SAOS), doença de pequenos vasos cerebrais, estenose carotídea extracraniana. A vasorreatividade cerebral pode ser monitorizada antes e após intervenções terapêuticas, que sabidamente aumentam a capacidade autoregulatória cerebral: uso de CPAP na síndrome de apnéia obstrutiva do sono, inibidores da enzima conversora de angiotensina, estatinas, etc.
Por outro lado, a vasorreatividade cerebral é comumente elevada em pacientes com diagnóstico de enxaqueca. Em pacientes cujos critérios clínicos ainda deixam dúvidas quanto ao correto diagnóstico, a elevada vasorreatividade cerebral pode ser um marcador biológico bastante útil para auxiliar o diagnóstico.