Nosso cérebro não vê sentido em viver sem atividade física


Já é bem reconhecido que a prática de exercícios físicos está associada a um menor risco de doenças cardiovasculares (infarto do coração e derrame cerebral), de alguns tipos de câncer (ex: mama, coloretal), transtornos mentais (ex: depressão, ansiedade), e está associada também a uma maior longevidade. Se tivermos que escolher uma única atitude saudável na vida para alcançarmos a longevidade com qualidade de vida, a prática regular de exercícios aeróbicos talvez seja a mais significativa.

Para se ter ideia do tamanho do efeito da atividade física aeróbica sobre a longevidade vale a pena conhecer os resultados de um dos mais robustos e recentes estudos sobre o tema publicado em 2008. A pesquisa foi iniciada em 1984 quando mais de 500 membros de uma associação de corredores de rua com mais de 50 anos de idade passaram a ser acompanhados anualmente. O grupo de corredores foi comparado a um grupo controle de semelhante faixa etária. Ao final de 21 anos de acompanhamento os resultados foram os seguintes: 1) a atividade física entre os corredores foi cerca de três vezes mais intensa ao longo de todo o estudo; 2) houve declínio da capacidade funcional ao longo dos anos em ambos os grupos, mas de forma menos relevante entre os corredores; 3) após 19 anos de acompanhamento, 34% dos indivíduos do grupo controle havia morrido, comparado a apenas 15% dos corredores; 4) os corredores apresentaram menor mortalidade não só por doenças cardiovasculares, mas também por câncer.

Como se isso tudo já não fosse o bastante, a cada dia temos mais evidências de que o cérebro também lucra com o hábito da atividade física regular. E o benefício ao cérebro já começa em idades precoces. Pesquisas demonstram que é maior o desempenho intelectual de crianças e adolescentes que praticam atividade física regular. Ao contrário do que já se chegou a cogitar, o tempo gasto com atividade física na escola promove mais sucesso acadêmico do que se o jovem direcionasse esse tempo de atividade física para mais atividades na sala de aula.

Os efeitos da atividade física também têm sido muito bem estudados no processo de envelhecimento cerebral sugerindo um efeito neuroprotetor. Uma série de pesquisas tem revelado que a atividade física em idosos melhora o desempenho cognitivo e os efeitos positivos podem ser observados em diversas dimensões da cognição e de forma mais marcante sobre as funções executivas que incluem, por exemplo, a memória operacional (de curto prazo), a capacidade de planejamento, de tomada de decisão e de dar atenção a mais de uma coisa ao mesmo tempo. Já dispomos também de um bom corpo de evidências de que a atividade física em idosos reduz o risco de desenvolver a Doença de Alzheimer e a Demência Vascular, ou pelo menos adia seu aparecimento.Os efeitos positivos da atividade física sobre o cérebro também já foram demonstrados através de variáveis fisiológicas que vão desde o aumento da perfusão sanguínea, metabolismo e tamanho do cérebro em determinadas regiões, até a modulação de sua própria atividade elétrica. Em animais as pesquisas chegam ao nível celular e molecular. Ratinhos que se exercitam criam novos neurônios e conexões em uma das regiões mais importantes do cérebro no que se refere à memória: o hipocampo. Novos vasos sanguíneos também são criados no hipocampo assim como em outras regiões cerebrais. O exercício estimula também a produção do Fator Neurotrófico Derivado do Cérebro, e isso já foi demonstrado também em humanos, que é responsável pela saúde dos neurônios e está associado à capacidade de aprendizado e memória. Até mesmo ratinhos recém-nascidos de mães que se exercitaram durante a gravidez têm mais neurônios no hipocampo do que aqueles de mães sedentárias. Para quem não sabe, uma das primeiras regiões cerebrais afetadas pela Doença de Alzheimer é o hipocampo, doença que promove redução do número de neurônios dessa região. Teoricamente, um indivíduo que se exercita, mesmo que desenvolva a Doença de Alzheimer, deve demorar mais para começar a apresentar sintomas já que tem uma reserva cerebral maior.

O exercício físico ainda é capaz de promover ativação de secreção de diversas substâncias no cérebro como endorfina e endocanabinoides, que podem provocar além do efeito imediato de euforia e redução da percepção de dor, também uma modulação do funcionamento químico do cérebro de forma mais sustentada. Essa é uma das formas de explicar resultados de pesquisas que mostram que a atividade física tem o poder de reduzir a chance de uma pessoa vir a desenvolver depressão. O interessante desses estudos é que esse poder é bem mais robusto no caso da atividade física associada ao lazer do que associada ao trabalho. Sabemos que o lazer, independente de estarmos nos mexendo, por si só já é capaz de recompensar quimicamente o cérebro levando ao bem-estar psíquico, e um dos componentes que ajudam a ativar esse bem-estar é a interação social que boa parte das atividades de esporte e lazer promove.

Desde a Grécia antiga defende-se a ideia de interdependência entre a mente e o corpo. Disse o romano Marcus Tullius Cícero por volta de 65 AC: “É o exercício físico que sustenta o espírito e mantém o vigor da mente”. Hoje não se faz mais o mesmo tanto de atividade física como antigamente e a redução foi mais drástica a partir da revolução industrial quando trabalho deixou de significar esforço físico. O fato é que nem nosso corpo nem nossa mente estão geneticamente adaptados para viver sem atividade física e essa é uma das principais explicações para o aumento da incidência de doenças crônicas como a obesidade e o diabetes, e que passam a acometer as pessoas em idades cada vez mais precoces.

Entre tantas questões que a ciência moderna ainda deve responder temos a seguinte: para o cérebro, qual o melhor tipo, intensidade, frequência e duração de exercício? Ao pensar em nossa saúde como um todo, podemos nos guiar pela atual recomendação de pelo menos 30 minutos de atividade moderada cinco vezes por semana. O que é atividade moderada? Atividade que dá até para fazer conversando, mas que aumenta a frequência cardíaca e faz suar a camisa!

Passando a limpo a T.P.M.. Suas origens e soluções


É no mínimo intrigante quando nos deparamos com resultados de pesquisas no Brasil e no exterior mostrando que até 90% das mulheres sofre de algum grau de tensão pré-menstrual, problema que hoje é mais corretamente chamado de síndrome pré-menstrual (SPM), pelo fato dos sintomas não se limitarem à tensão nervosa, ansiedade e irritabilidade. Outros sintomas comuns incluem alterações no padrão de sono e do apetite, humor deprimido, dor de cabeça, inchaço no corpo e dor na mama.

Não é difícil reconhecer o impacto da SPM na vida das mulheres se fizermos uma conta curiosa. A menstruação costuma começar entre os 12 e 13 anos de idade e termina por volta dos 50 anos. Mesmo descontando dois anos sem menstruação em mulheres que têm dois filhos ao longo da vida, contando com o período de amamentação, a mulher experimentará cerca de 450 ciclos menstruais na sua fase fértil. Se considerarmos que os sintomas da SPM duram uma média de 6 a 7 dias por ciclo, fechamos nossa conta com quase 3000 dias de sintomas durante a vida: oito anos! Resumindo: as mulheres com SPM passam mais de 10% suas vidas com sintomas.

E sendo a SPM uma condição tão frequente, admite-se que ela possa representar uma vantagem evolutiva que as mulheres herdaram de seus ancestrais e que talvez já não sirva mais para muita coisa. Nossos ancestrais fêmeas aumentavam suas chances de gerar descendentes devido a um comportamento mais “amigável” na fase fértil e mais “arisco” na fase infértil, como é o caso do período pré-menstrual. Entre os primatas, que apresentam comportamento sexual promíscuo, essa estratégia permite que o macho escolha a fêmea com mais sinais de fertilidade para copular.

Comparadas a mulheres de sociedades coletoras / caçadoras, as mulheres de hoje têm a primeira menstruação quase quatro anos mais cedo, têm menos filhos, sendo o primeiro em idade mais avançada, períodos de aleitamento mais curtos e ainda apresentam a menopausa mais tardiamente. Tudo isso leva a mulher moderna a apresentar três vezes mais ciclos menstruais do que a mulher em ambiente mais primitivo, e a princípio, pode sofrer até três vezes mais com os sintomas da SPM ao longo da vida.

Na maioria dos casos, os sintomas da SPM são leves a moderados, e em cerca de 5-8% dos casos, os sintomas adquirem sua forma e apresentação mais severa, também chamado de transtorno disfórico pré-menstrual. Nesses casos a mulher apresenta sintomas com significativo impacto no seu trabalho / escola, atividades sociais ou relacionamentos afetivos.

O cérebro está cheio de receptores aos hormônios sexuais em regiões que regulam o comportamento e as emoções, como é o caso da amígdala e o hipotálamo. Entende-se atualmente que mulheres com SPM têm uma maior sensibilidade cerebral às flutuações hormonais que ocorrem durante o ciclo menstrual, podendo influenciar a liberação de neurotransmissores envolvidos na regulação do humor, comportamento e funções cognitivas, especialmente a serotonina. Sabemos que os sistemas de serotonina são capazes de modular os efeitos comportamentais dos hormônios sexuais (ex: agressividade), fato bem apoiado pelo efeito positivo de medicações que elevam os níveis de serotonina em mulheres com SPM. Além disso, sistemas hormonais que controlam a concentração de água e eletrólitos no corpo também podem ser influenciados pela flutuação hormonal, o que poderia explicar os sintomas de inchaço. Entretanto, esse ainda é um tema bem controverso.

Há muito que se fazer para reduzir o impacto da SPM no dia-a-dia. Estratégias medicamentosas é que não faltam, passando por suplementação de cálcio, magnésio, vitamina B6, intervenções hormonais, e antidepressivos que aumentam as concentrações de serotonina (tanto de forma contínua ou só na segunda metade do ciclo). Além disso, medidas comportamentais são bem-vindas, tais como atividade física e técnicas de relaxamento. Quanto à dieta, é frequente a recomendação de restrição de calorias e fracionamento da dieta, mas não há evidências científicas suficientes para “prescrevermos” uma dieta específica. Além disso, estudos com dietas com alto teor de carboidratos complexos sugerem benefícios às mulheres com SPM, talvez por aumento nas concentrações cerebrais de serotonina. É a história do chocolate como melhor amigo da mulher na fase pré-menstrual…

O que Darwin e Freud nos diriam sobre amor e paixão nos dias de hoje ?


Com o objetivo de perpetuação da espécie, é bem compreensível que nosso cérebro tenha se desenvolvido para ser recompensado com tempestades neuroquímicas de prazer ao experimentarmos atração sexual por outra pessoa. Hoje em dia já conhecemos muito dos atributos que aumentam as chances das pessoas se atraírem sexualmente e que vão além de fatores culturais. Os atributos estéticos da pessoa são bastante determinantes, mas outros fatores como cheiro, tom de voz, status social e financeiro, senso de humor, inteligência, todos esses já foram demonstrados como fatores que influenciam a atração sexual, alguns desses mais relevantes para as mulheres enquanto outros para os homens. Já sabemos que por trás dessas preferências há uma mãozinha do nosso código genético.

Quanto maior a diferença entre os DNAs de duas pessoas, maior a chance de atração sexual. Do ponto de vista evolutivo isso faz sentido, pois a reprodução sexuada tem por princípio básico a mistura de genes, diminuindo assim o risco de doenças geneticamente determinadas. Isso ajuda a explicar porque evitamos gerar filhos dentro da própria família. Evitamos o incesto não só por questões culturais ou religiosas, mas nosso cérebro tem atração sexual por pessoas que estão longe do núcleo familiar, pois estas têm maior chance de possuírem um repertório genético distinto do nosso. Num famoso estudo, também chamado de experimento da camiseta suada, mulheres cheiravam várias camisetas masculinas suadas e tinham que eleger a que tinha cheiro mais sensual. Elas elegeram o cheiro de homens com os DNAs mais diferentes dos delas. Uma evidência de que esse é um comportamento que herdamos de nossos ancestrais é o fato de que, ao contrário do que muitos pensam, o incesto é muito raro em grande parte das espécies animais. Freud e Darwin não tinham esse conhecimento em mãos, já que os primeiros estudos sobre a evitação do incesto em animais apareceram apenas entre 1960 e 1970, incluindo primatas, baleias e até roedores.

Imaginem se Darwin e Freud tivessem o conhecimento que temos hoje sobre nossas respostas cerebrais à atração sexual e à presença da pessoa amada. As regiões cerebrais ativadas em resposta a sentimentos românticos ou à atração sexual são muito parecidas, e envolvem o mesmo sistema de recompensa cerebral disparado ao nos deliciarmos com um alimento saboroso. Os principais combustíveis dessas reações são a dopamina, ocitocina e vasopressina, sendo que esses dois últimos não participam das reações observadas no amor materno, e esse é um dos pilares que explicam a diferença entre o amor romântico e o materno. Além das regiões do cérebro que se “acendem” com as experiências do amor romântico ou atração sexual, sabemos também que outras áreas se “apagam”, e essas são regiões vinculadas à função do medo (amígdala) e regiões associadas à nossa crítica, juízo de valores, nosso “superego” (ex: lobo frontal). Isso explica em parte por que o amor é cego, e a paixão nem se fala.

E a monogamia? Há espécies animais, especialmente mamíferos e aves, que preferem continuar com seu parceiro original, mesmo com a oferta de novos parceiros. Esse comportamento é acompanhado de mútua defesa de território e de providência de alimento, e até mesmo de ansiedade à separação. Isso é regado por muita química cerebral e mais uma vez com a participação da dopamina, o neurotransmissor mais associado ao fenômeno de recompensa e ao vício em drogas.  Essa ligação mais duradoura com o parceiro é vista como uma vantagem evolutiva, já que permite que o casal cumpra as tarefas da maternidade e paternidade por tempo suficiente para que a cria tenha mais chance de sucesso de alcançar a idade reprodutiva. Devemos pensar que entre os humanos a monogamia é algo absolutamente cultural e religiosa? Não somos mamíferos tão diferentes assim. Sabemos que entre nós a dopamina transborda com a atração sexual e a experiência romântica, mas também com o processo de ligação mais estável com o parceiro. E vocês acham que Caetano Veloso exagerou na letra de MEU BEM, MEU MAL? “Você é meu caminho, meu vinho, meu vício…”

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