Trump tem equilÃbrio psÃquico apropriado para o cargo que ele ocupa?
Por Dr. Ricardo Afonso Teixeira*
o ano de 2021 o presidente da Coalisão Mundial de Saúde Mental rejeitou a orientação da Associação Americana de Psiquiatria ao dar um diagnóstico psiquiátrico a uma pessoa pública, no caso, Donald Trump, sem examiná-lo pessoalmente. A Coalisão se valeu da Declaração de Genebra que defende que médicos podem se expressar quando frente a governos destrutivos — Declaração criada após a experiência do nazismo.
De acordo com a Coalisão, o fenômeno Trump e seus seguidores estão embasados em um narcisismo simbiótico e uma psicose compartilhada. Por narcisismo simbiótico devemos entender que um lÃder, faminto por adulação para compensar sua baixa autoestima, projeta uma onipotência grandiosa, enquanto seus seguidores, carentes pelo estresse social e econômico, buscam ansiosamente por uma figura parental.
Quando esses indivÃduos assumem posições de poder, eles elicitam a mesma patologia numa parte da população com encaixe perfeito, como uma chave feita para aquela fechadura. Quanto à psicose compartilhada, eles a chamam também de folie à million. Folie à deux (loucura a dois) é um fenômeno descrito na psiquiatria desde o século 17 e refere-se a sintomas delirantes compartilhados por duas pessoas geralmente da mesma famÃlia ou próximas.
A folie à deux também é chamada de transtorno psicótico induzido, e folie à million, socorro! Quando um indivÃduo muito sintomático é colocado em posição de poder e influência, seus sintomas podem se propagar à população por meio de ligações emocionais, amplificando patologias pré-existentes e afetando até indivÃduos previamente saudáveis. E o fator delirante provavelmente é mais forte do que um cálculo estratégico, pois ele se dissemina mais facilmente.
É importante salientar que os indivÃduos com transtornos mentais como um grupo não são mais perigosos que a população geral, mas quando o transtorno mental vem acompanhado de componentes destrutivos, esses indivÃduos são mais perigosos, sim. E de onde vem esse elemento destrutivo? Simplificando, se uma pessoa não recebe amor, ela busca respeito. Se ela não tem o respeito, ela realiza ameaças.
Uma pergunta comum que é feita desde o inÃcio dessa discussão é se Trump tem algum transtorno mental ou é apenas mau, ou os dois. Para quem quiser se aprofundar nessa discussão, vale a leitura do livro The dangerous case of Donald Trump (O perigoso caso de Donald Trump, em tradução livre), um best seller do New York Times publicado em 2017.
*Dr. Ricardo Afonso Teixeira é doutor em neurologia pela Unicamp e neurologista do Instituto do Cérebro de BrasÃlia.
Matéria originalmente no site do Correio Braziliense.
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