Como a cafeÃna influencia o cérebro enquanto dormimos?
Por Dr. Ricardo Afonso Teixeira*
A literatura médica descreve efeitos benéficos do consumo moderado de café em diferentes sistemas do nosso corpo. Reduz o risco de diabetes, doenças cardiovasculares, alguns tipos de câncer e doenças neuropsiquiátricas como depressão, Alzheimer e Parkinson. As restrições ao seu consumo são poucas e podemos falar das pessoas que têm intolerância gástrica ao café, gestantes que devem evitá-lo e indivÃduos com osteoporose que podem ser prejudicados com seu consumo em excesso. Além disso, o café deve ser evitado após certa hora do perÃodo vespertino para não provocar insônia.
Mas como o café exerce esse seu poder estimulante? A cafeÃna é a grande responsável por esse efeito ao se ligar a receptores de adenosina do cérebro que promovem uma inibição da atividade cerebral – adenosina é um neurotransmissor inibitório. A cafeÃna tem uma ação inibitória nesses receptores fazendo uma inibição de um sistema que é inibitório. Por isso o efeito final é estimulante. Quando reduzimos o efeito do freio de mão, o carro anda mais. Assim age a cafeÃna. Quando acordados ficamos mais despertos, mas como fica o sono sob a influência da cafeÃna?
O entendimento da cafeÃna sobre o sono teve um grande salto há cerca de um mês após uma análise dos ritmos cerebrais no eletroencefalograma com a assistência de inteligência artificial e conduzida por pesquisadores da Universidade Montreal no Canadá. A cafeÃna torna os sinais cerebrais otimizados para o processamento de informações e tomada de decisões mesmo durante o sono. É um estado ótimo durante o dia, mas esse padrão semiacordado e reativo pode interferir com o poder reparador do sono.
A cafeÃna inibiu o contingente de ondas lentas do sono, ondas que estão associadas ao sono profundo e restaurador. Aumentou, por outro lado, o contingente de atividade beta no sono, atividade que é caraterÃstica do estado de vigÃlia. Esses efeitos são mais intensos entre indivÃduos mais jovens, explicado por uma maior concentração de receptores de adenosina na juventude. O estudo foi publicado pela Nature Communications Biology.
*Dr. Ricardo Afonso Teixeira é doutor em neurologia pela Unicamp e neurologista do Instituto do Cérebro de BrasÃlia.
Matéria originalmente no site do Correio Braziliense.
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