O cerebelo é muito mais que uma central de coordenação motora

Pesquisadores descrevem, pela primeira vez, um circuito que envolve o cerebelo e, no futuro, a sua manipulação pode ser usada  para o tratamento de transtornos como autismo e drogadição. 


O cerebelo é uma região do sistema nervoso central que fica na sua parte posterior e por muitos anos foi considerado como o maestro de nossa coordenação motora. Há algum tempo temos evidências de que ele também participa da nossa atividade cognitiva, processamento das emoções e comportamento. Nesse caso, ele usa sua batuta para fazer com que as regiões ligadas ao pensamento e às emoções trabalhem em conjunto de forma mais eficaz. E esse conhecimento só teve início há duas décadas após a descrição da Síndrome Afetiva Cognitiva Cerebelar pelo americano Jeremy Schmahmann. Ele mostrou que indivíduos com lesões no cerebelo apresentavam, além de alterações de coordenação motora, disfunções cognitivas e de controle emocional.

Mais recentemente, temos evidências de ligação entre alterações da função do cerebelo a condições como adição a drogas, autismo e esquizofrenia. Esses achados sugerem que o cerebelo deva participar do sistema de recompensa cerebral e de nosso comportamento social, mas uma clara conexão entre esses sistemas ainda era desconhecida. A revista Science publicou este mês uma pesquisa que deixa mais claro essa questão.

Pesquisadores americanos mostraram, pela primeira vez, um circuito que liga o cerebelo diretamente ao centro tegmentar ventral, área do cérebro considerada um dos mais importantes centros do nosso sistema de recompensa. A pesquisa foi realizada em roedores e mostrou também que a estimulação desse circuito era capaz de provocar comportamento semelhante ao de adição. Um futuro experimento testará se roedores expostos a cocaína podem ter o componente de adição reduzido após a inibição desse circuito.

E estudos em humanos já estão na mira dos pesquisadores. A manipulação da atividade dessa conexão com técnicas de impulsos magnéticos e microeletricidade pode ser promissora para o tratamento de adição a drogas e autismo, por exemplo.

 

 

Confira o áudio da coluna Cuca Legal, uma parceria do ICB com a Rádio CBN Brasília:

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