Sobre pessoas que chegam aos 90 anos de idade com o cérebro tinindo
Por volta dos 15 anos de idade nosso encéfalo alcança seu maior peso (~ 1350g), com uma perda de cerca de 1,5% desse peso a cada década. Essa redução se dá muito mais por redução do tamanho dos neurônios do que por destruição dos mesmos. Paralelamente, há uma redução no número de conexões entre os neurônios e significativo acúmulo de substâncias associadas ao envelhecimento que dificultam o pleno funcionamento cerebral. Do ponto de vista funcional, essas alterações estruturais só começam a ter impacto após a sexta década de vida. Em média, só a partir dos 60 anos é possível confirmar declínio de capacidades psicométricas, com exceção da fluência verbal que declina levemente já na quinta década de vida. O declínio dessas capacidades é muito modesto até os 80 anos, quando se torna mais acentuado em pelo menos 50% dos indivíduos.
Mas será que esse declínio cognitivo é inevitável? O fato é que alguns chegam a idades muito avançadas com memória comparável a de pessoas com seus 50-60 anos. O que será que esses supercérebros têm de diferentes?
Quando se compara esses supercérebros com outros da mesma idade, mas com o discreto declínio cognitivo esperado para a idade, observa-se que eles têm a substância cinzenta mais avantajada e comparável à de “jovens” de 50-65 anos. E não é só isso. Os superoctagenários apresentam uma região do cérebro até mais desenvolvida que aqueles 20 anos mais novos. Essa região é conhecida como cíngulo anterior, região fortemente associada à nossa capacidade de prestar atenção nas coisas e também faz parte do sistema de recompensa cerebral. Isso pode ser a chave do sucesso para a boa memória dos superoctagenários.
Entender melhor o que esses supercérebros têm de diferente pode ser tão promissor para a criação de terapias para a prevenção da doença de Alzheimer como conhecer os cérebros doentes.
Como será o cérebro de uma atleta de 93 anos?
Os pesquisadores compararam o desempenho cognitivo de Olga e as características da ressonância magnética de seu cérebro com outras 58 mulheres com idades entre 66 e 78 anos. Nessa época Olga tinha 93 anos.
O estudo mostrou que o cérebro de Olga era mais volumoso do que o esperado para sua idade. Surpreendente foi encontrar que a parte do cérebro que liga os dois hemisférios, o corpo caloso, era mais intacta em Olga do que entre as mulheres dez ou vinte anos mais jovens!
O desempenho cognitivo de Olga mostrou-se levemente inferior ao das mulheres mais jovens, mas superior ao de mulheres da mesma idade não atletas de um estudo independente. Os hipocampos de Olga, área cerebral fortemente responsável por nossa memória, também eram menores que o das mulheres de 60-70 anos, mas maiores que o de mulheres da mesma idade.
Estudos prévios já haviam demonstrado que a atividade aeróbica é capaz de garantir um bom funcionamento cerebral entre os idosos e até preservar o volume de algumas áreas estratégicas do pensamento como o hipocampo.
E o mais interessante é que Olga iniciou sua vida de atleta aos 65 anos e passou a se dedicar ao atletismo aos 77 anos. Competiu em corridas curtas e longas, saltos e arremessos de disco, martelo e dardos.
Confira o áudio da coluna Cuca Legal, uma parceria do ICB com a Rádio CBN Brasília: