Entenda como o altruÃsmo pode reduzir o risco de doenças e aumentar a longevidade
Por Dr. Ricardo Afonso Teixeira*
Além de terem uma maior sobrevida, as pessoas que se dedicam a trabalhos voluntários têm a percepção de terem um melhor estado fÃsico e psicológico. A literatura médica ainda aponta que há uma associação com menor risco de depressão e demência.
Mas quais seriam os mecanismos que explicariam a promoção de todos esses efeitos benéficos do voluntariado? Incremento das interações sociais é uma possibilidade. Além disso, o voluntariado é capaz de aumentar a motivação e promover uma sensação mais profunda de sentido na vida. Quando a motivação é para ajudar o outro vive-se o sentimento de dedicação a algo maior do que a si próprio.
Quando um voluntário é orientado pelo altruÃsmo, este tem maior chance de apresentar um melhor equilÃbrio psicossocial. Toda forma de voluntariado é legÃtima, mas quando a razão é focada em interesses próprios, a chance de frustração é maior, com uma expectativa de retorno que não é alcançada. Além disso, alguns tipos de voluntariado com alto de grau de estresse psicológico andam na contramão do equilÃbrio mental e da saúde como um todo.
Precisa ter alguém olhando?
O altruÃsmo é uma especial caracterÃstica da espécie humana já que estende os benefÃcios de nossas boas ações a indivÃduos que não fazem parte do núcleo familiar. Há uma forte linha de pesquisa que busca explicar as raÃzes de nossas ações altruÃsticas através da ideia de que elas podem gerar ganhos do ponto de vista de reputação, colocando o altruÃsmo como uma possÃvel vantagem evolutiva, ou seja, indivÃduos com comportamento altruÃsta teriam maior chance de sucesso em gerar descendentes.
Esse efeito reputação é ainda mais reforçado por resultados de pesquisas que evidenciam que ações altruÃsticas são maiores quando há plateia. Além dos potencias ganhos sociais, há outro nÃvel de recompensa, já que nosso sistema cerebral de recompensa e prazer é ativado quando nos doamos para outras pessoas. Tudo isso não é simples ceticismo. O corpo atual de evidências nos faz pensar que nosso cérebro evoluiu para se sentir bem fazendo bem aos outros e que isso permitiu que aumentássemos nosso potencial de relações e procriação.
O comportamento humano frente a situações injustas reforça ainda mais o papel da reputação como base do altruÃsmo. Experimentos nos mostram que indivÃduos que assistem a uma situação de injustiça, que não os afeta pessoalmente, ganham em reputação quando assumem um comportamento de punição à injustiça. Esse comportamento também ativa os centros cerebrais de recompensa.
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*Dr. Ricardo Afonso Teixeira é doutor em neurologia pela Unicamp e neurologista do Instituto do Cérebro de BrasÃlia.
Crédito foto: PEXELS