Estigma relacionado à enxaqueca pode ser prejudicial à saúde
Por Dr. Ricardo Afonso Teixeira*
Uma pesquisa acaba de ser publicada no periódico Neurology da Academia Americana de Neurologia e mostra que um terço dos portadores de enxaqueca percebem frequentemente estigma associado à sua doença e isso está associado à dificuldade no controle das crises de cefaleia e a uma pior qualidade de vida. Cerca de 60 mil americanos com enxaqueca foram incluÃdos nesse estudo que foi o primeiro com dimensão populacional realizado até então para a análise do estigma na enxaqueca.
As pessoas que sofrem de crises de enxaqueca repetidamente explicitam a dificuldade que os outros têm de entender o quanto sua condição é capaz de restringir as atividades do dia a dia. A enxaqueca tem impacto negativo na vida acadêmica e profissional, limita o convÃvio familiar e social, isso sem falar na restrição de atividades de lazer e exercÃcio fÃsico. Muitos apresentam até um quadro de ansiedade antecipatória que é um fantasma para qualquer compromisso futuro. Marcarei esta reunião tão importante? E se no dia eu apresentar uma daquelas crises fortes? Compro ingresso para este show? E se no dia.
Vale lembrar que a enxaqueca é a segunda causa de incapacidade entre todas as doenças e, quando miramos nas mulheres com até 50 anos, ela é a principal causa de incapacidade. Os relatos dos pacientes demonstram que eles percebem o estigma até entre os familiares. Não vai à festa com a gente por conta de enxaqueca? Mas de novo? No ambiente de trabalho, não é tão comum a compreensão de que uma crise de enxaqueca é razão suficiente para que uma pessoa falte naquele dia.
O estigma associado à enxaqueca pode ser dividido em dois tipos. O primeiro é quando a pessoa sente que os outros estão achando que ela está se aproveitando para tirar vantagem e ir para casa antes do fim do expediente, por exemplo. Outro tipo é a percepção de que as pessoas estão achando que o problema está sendo supervalorizado. Afinal é só uma enxaqueca.
*Dr. Ricardo Afonso Teixeira é doutor em neurologia pela Unicamp, professor do curso de medicina do Unieuro e neurologista do Instituto do Cérebro de BrasÃlia.
Matéria originalmente no site do Correio Braziliense.
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