Google, X e Meta nos fazem lembrar da indústria do tabaco no século passado
Por Dr. Ricardo Afonso Teixeira*
A Scientific American, publicação do grupo editorial da Nature, nos trouxe este mês uma reflexão que compara o comportamento das atuais gigantes da mÃdia com a das companhias de tabaco no século passado. O artigo é assinado pelo cientista David Robert Grimes, um dos grandes nomes mundiais na luta contra a desinformação.
Desde a década de 1940 já tÃnhamos evidências da associação entre o tabagismo e câncer de pulmão e, ainda na década de 1950, as companhias de cigarro contrataram uma campanha publicitária poderosa para reforçar a ideia de dúvida. Criava assim na população geral uma opinião de que a associação entre cigarro e câncer era ainda controversa. Mark Zuckerberg da Meta usa a mesma estratégia da dúvida quando diz que não existem evidências cientÃficas que mostrem um efeito danoso das redes sociais sobre a saúde mental, apesar de centenas de estudos mostrarem o contrário.
Zuckerberg anunciou este ano a interrupção da checagem de fatos, modelo já seguido pelo X, com a justificativa de que a checagem tinha um custo alto e por não respeitar a liberdade de expressão. Elon Musk do X se autointitula um defensor da liberdade de expressão absoluta e elenco aqui dois resultados dessa liberdade absoluta: incitação pelo Facebook ao genocÃdio em Mianmar em 1998 e um vÃdeo no Tik Tok que alcançou 1.8 milhão de views recomendando lavagem intestinal anual com água sanitária para a prevenção/tratamento de parasitose intestinal. Há pouco tempo uma criança de oito anos morreu vÃtima de um desafio da internet que propunha inalação de desodorante.
Para que a desinformação cause danos, ela não precisa convencer. Só precisa gerar dúvidas. É o fenômeno da verdade ilusória, quando a exposição repetida de uma informação nos faz aceitá-la, mesmo que intelectualmente sabemos que se trata de uma ideia falsa. Um capÃtulo à parte são os riscos que informações sem qualquer tipo de regulação oferecem à s democracias.
Juristas, ex-ministros, artistas lançaram recentemente um manifesto que pede regras para as redes sociais. O manifesto diz “Se é crime no mundo fÃsico, também deve ser crime no mundo virtual! Internet sem regulamentação mata!”. Aqui você tem o link para assinatura:
https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSfm6UEfbjh-Hvltw5lICgTgW5mJfZmZ0MA2kYnr69A77dBl9g/viewform?pli=1.
*Dr. Ricardo Afonso Teixeira é doutor em neurologia pela Unicamp e neurologista do Instituto do Cérebro de BrasÃlia.
Matéria originalmente no site do Correio Braziliense.
Crédito foto: PEXELS