Mais informações que nos ajudam a entender a ação terrorista de 8 de janeiro em Brasília
Os atos terroristas na Praça dos Três Poderes no dia 8 de janeiro suscitam uma pergunta: O que os manifestantes tinham na cabeça?
Por Prof. Dr. Ricardo Teixeira
No dia 10 de janeiro, o jornal Estado de São Paulo divulgou estudo que apontou que 18.4% dos brasileiros entrevistados concordam com a depredação dos prédios públicos. Mostrou ainda que 38% acreditam que os atos golpistas se justificam de alguma forma. No dia seguinte, pesquisa Datafolha mostra que 3% dos entrevistados são a favor dos ataques.
O judiciário promete responsabilização e punição dos organizadores, financiadores e manifestantes do ato golpista. Inclui também nessa lista os incentivadores. A presidente interina do Conselho Federal de Medicina poderia ser incluída nessa última categoria, ao comemorar nas redes sociais o ato terrorista com comentário de “agora vai!”? Jair Messias deveria ser incluído só nessa categoria ou também na categoria de idealizadores?
James Piazza da Universidade da Pensilvânia nos EUA nos ajuda a responder a essa questão. Ele publicou uma pesquisa em 2020 no periódico International Interactions mostrando que discursos de ódio efetuados por políticos alimentam a polarização política que por sua vez aumenta o terrorismo doméstico. A pesquisa analisou o teor de ódio em discursos políticos e a incidência de atos terroristas em 163 países no período entre 2000 e 2017.
Existe um consenso de que há um espectro de visões políticas extremistas e outro de ações extremistas. O radicalismo nesse espectro de opiniões não chega a se manifestar em radicalismo de ações, como atentados terroristas, em 99% dos casos.
Há um perfil psicológico comum entre indivíduos que passam do extremismo de ideias para ações terroristas? Décadas de pesquisas têm nos mostrado que não existe um perfil psicológico para um terrorista. Não existe um transtorno mental específico que é associado ao terrorismo. Entretanto, alguns terroristas apresentam alguns traços psicológicos mais comuns que a população geral e, mesmo nesse grupo, a prevalência de transtornos mentais não chega a 50%. Chamar os perpetradores do ato terrorista de doentes mentais alimenta o estigma de quem realmente sofre com as doenças mentais.
A ideia de que o terrorista seja absolutamente racional para alcançar seus objetivos é bastante aceita. Porém, pesquisas têm demonstrado que eles são influenciados sim pelas emoções, como a raiva, assumindo comportamentos míopes, frequentemente cegos. Podemos pensar neles como buchas de canhão, com personalidade coletiva que seguem um grande “influencer”.
Confira o áudio da coluna Cuca Legal, uma parceria do ICB com a Rádio CBN Brasília: