Poluição do ar está associada a aumento de sinais patológicos do Alzheimer
Por Dr. Ricardo Afonso Teixeira*
IndivÃduos expostos a maiores nÃveis de poluição atmosférica apresentam maior contingente de placas beta-amiloides no cérebro quando examinados à necropsia. Placas beta-amiloides e emaranhados neurofibrilares são os dois principais marcadores patológicos da doença de Alzheimer. Esses são resultados de uma pesquisa publicada nesta quarta-feira (21/02) pelo periódico Neurology, da Academia Americana de Neurologia e conduzidos pela Universidade Emory de Atlanta, nos EUA.
Os indivÃduos envolvidos foram a óbito aos 76 anos, em média, com ou sem diagnóstico de demência, e haviam doado seus cérebros para necropsia. A concentração de partÃculas finas de poluição atmosférica (< 2.5µm) em suspensão no endereço de cada um dos participantes foi analisada em conjunto com os achados da necropsia.
Aqueles que moravam em localidades com maior quantidade dessas partÃculas foram os que apresentaram também maiores depósitos de placas beta-amiloides no cérebro. As maiores exposições no último ano antes do óbito foram associadas a um risco duas vezes maior de apresentar altos nÃveis de placas no cérebro.
Além disso, foi analisado o impacto da variante APOE e4 cuja presença está associada a um risco maior da doença de Alzheimer. Os que apresentavam essa variante foram os que tinham menor relação entre nÃveis de poluição e de lesões cerebrais, sugerindo que fatores ambientais podem ser ainda mais importantes entre aqueles que não possuem predisposição genética.
Desde a segunda metade da década de 2010 pesquisas têm demonstrado que residir em áreas com grande circulação de automóveis representa um risco de desenvolver um quadro de demência. Há evidências em roedores que a poluição do ar promove estados de inflamação no cérebro, assim como o fenômeno de degeneração.
Estudos mostram associação entre a exposição a partÃculas finas de poluição do ar e a presença de marcadores para a doença de Alzheimer no lÃquor e também no exame de PET entre indivÃduos sem quadro demencial. Já foi demonstrado também que o ar poluÃdo aumenta o grau de aterosclerose, que, por sua vez, pode levar ao aumento da incidência de lesões vasculares no cérebro. Vale lembrar que as lesões vasculares representam a segunda causa mais comum de demência na maioria das populações.
*Dr. Ricardo Afonso Teixeira é doutor em neurologia pela Unicamp, professor do curso de medicina do Unieuro e neurologista do Instituto do Cérebro de BrasÃlia.
Matéria originalmente no site do Correio Braziliense.
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