Se quiser sugerir uma direção, evite falar que muitos têm escolhido a outra

Nos mais diversos aspectos da sociedade, a comunicação é fundamental para fazer com que os indivíduos escolham e sigam os caminhos certos para cada eventualidade

Por Dr. Ricardo Afonso Teixeira*

A comunicação, seja com o filho, ou mesmo em uma campanha de promoção de saúde, deve evitar a ideia de que muitas pessoas têm o hábito de fazer aquilo que você não quer que seja feito. Quando passa a impressão de que um mau comportamento é popular, seu interlocutor tem menos chance de seguir seu conselho. Ele vai pensar, mesmo que de forma inconsciente, que o comportamento indesejado por você é a norma social.

A revista Scientific American trouxe uma série de exemplos reais que devem servir de alerta a pais, educadores, jornalistas, a quem trabalha com políticas públicas e a qualquer um que espera que seu conselho seja seguido. Veja alguns exemplos:

— Campanha antidrogas promoveu o aumento do consumo entre estudantes ao passar a ideia de que as drogas estão em todos os cantos da cidade;

— Campanha para prevenção de suicídio entre adolescentes que enfatizava a alta incidência do problema aumentou o número daqueles que passaram a pensar em terminar com a própria vida;

— Sonegação fiscal aumentou após uma campanha de que as multas seriam aumentadas em seus valores já que muitas pessoas tinham sonegado no último período;

— A mensagem de um Parque Nacional “Muitos visitantes anteriores levaram pedras para casa. Não faça as coisas piorarem levando mais pedras” levou a mais roubos do que a frase dizendo “Por favor, não leve para casa pedras do parque;

— Numa eleição, chamar a atenção para a porcentagem dos que não compareceram às urnas pode aumentar o número de abstenções;

— Ao dar orientações sobre a necessidade de fugir do sedentarismo, tabagismo ou sexting, por exemplo, o tiro pode sair pela culatra se a mensagem for carregada da realidade epidêmica desses problemas;

Alguns exemplos de mensagens bem-sucedidas:

— Fotos de doenças nos maços de cigarro e campanhas que trazem o número de mortes por tabagismo ao invés de chamar a atenção para a grande frequência do hábito;

— Enviar correspondência a médicos dizendo que eles estão prescrevendo mais antibióticos por paciente do que a maioria dos seus colegas de profissão;

— Correspondência aos motoristas de uma cidade dizendo que a maioria paga suas multas dentro de 13 dias;

— O hotel que deixa uma mensagem dizendo que a maioria dos hóspedes reutilizam as toalhas;

— Você terá mais chance de ir votar se receber uma mensagem lembrando que a maioria dos seus vizinhos estão votando. Influenciar o comportamento dos outros não é simples, mas se feito de forma correta, pode ser altamente eficaz em inúmeras dimensões do nosso dia a dia.

*Dr. Ricardo Afonso Teixeira é doutor em neurologia pela Unicamp, professor do curso de medicina do Unieuro e neurologista do Instituto do Cérebro de Brasília.

Matéria originalmente no site do Correio Braziliense.
Crédito foto:
Pexels

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