Vacinação para herpes zoster pode proteger idosos contra
Por Dr. Ricardo Afonso Teixeira*
Hoje podemos dizer que 50% das chances de desenvolvermos a doença de Alzheimer estão associadas a fatores genéticos e outros 50% a fatores ambientais. Entre os fatores ambientais, os vÃrus neurotópicos (i.e.,herpesvÃrus) sempre foram considerados potencias agentes etiológicos, mas nunca antes tivemos uma evidência tão robusta dessa associação como a pesquisa publicada esta semana pela revista Nature.
Em 2013, um programa de vacinação no PaÃs de Gales, no Reino Unido, por limitação na quantidade de doses, ofereceu vacinação para herpes zoster para indivÃduos com 79 anos de idade; no ano seguinte, à queles um ano mais jovens; e assim por diante. O programa acabou sendo um experimento natural Ãmpar, pois permitiu a comparação com os indivÃduos de 80 anos que não tiveram acesso à vacinação, apenas poucos dias, semanas, meses mais velhos. Isso foi muito próximo ao modelo de pesquisa padrão ouro para inferência de uma relação causa e efeito, os famosos estudos randomizados duplo-cegos.
Os idosos que receberam vacinação para o vÃrus herpes zoster tiveram uma redução de 20% no risco de apresentar um diagnóstico de demência em um perÃodo de sete anos. Os efeitos foram ainda mais significativos entre as mulheres.
Um corpo bem razoável de evidências laboratoriais e estudos clÃnicos com metodologia mais frágil mostra associação entre infecções virais, incluindo herpes zoster, e o desenvolvimento de demência. A vacinação no presente estudo pode ter promovido uma melhora do estado imunológico geral, reduzindo o risco de demência, mas pode ter reduzido o componente inflamatório do cérebro ao inibir a reativação do vÃrus.
Já foi demonstrado que os herpesvirus podem provocar alterações vasculares e depósitos de proteÃnas no cérebro semelhantes aos encontrados na doença de Alzheimer. Herpes zoster é o mesmo vÃrus da catapora que fica quiescente no nosso sistema nervoso e, em idades mais avançadas, podem ser reativados.
Planeja-se agora um estudo randomizado para testar os resultados em outras populações. A vacina usada no estudo foi a de vÃrus atenuado (Zostavax®) que vem sendo substituÃda pela de vÃrus inativado (Shingrix®). Ambos os tipos deverão ser testados.
*Dr. Ricardo Afonso Teixeira é doutor em neurologia pela Unicamp e neurologista do Instituto do Cérebro de BrasÃlia.
Matéria originalmente no site do Correio Braziliense.
Crédito foto: PEXELS