Epidemiologia social: uma preciosa ferramenta para a saúde pública
1- Os pesquisadores publicaram um estudo revelando que, numa epidemia infectocontagiosa, no caso, o vÃrus da gripe, indivÃduos mais ao centro da rede social são acometidos mais precocemente. Esse achado pode facilitar o controle de epidemias ao se focar os esforços precocemente em indivÃduos mais vulneráveis.
2- A rede social de um indivÃduo tem impacto no seu risco de tornar-se obeso em até três graus da rede (ex: amigo do amigo do amigo). Essa associação é muito mais forte pela proximidade social do que pela geográfica, como é o caso de vizinhos. A chance de uma pessoa se tornar obesa é 57% maior se um amigo se tornou obeso num dado perÃodo. Entre irmãos, a chance é 40% maior e no caso do cônjuge, a chance aumenta em 37%.
3- Esse mesmo efeito de contágio social existe na chance que uma pessoa tem de parar de fumar. Quando um dos membros de um casal para de fumar, o outro tem uma chance 67% maior de parar também. O indivÃduo tem 25% mais chances de parar quando um irmão/ irmã também para, 36% mais chance quando um amigo para e 34% mais chance quando um colega de trabalho para.
4- O contágio social também exista na capacidade de uma pessoa se considerar feliz. Há uma tendência de pessoas felizes estarem no centro de suas redes sociais e próximas de outras com alto grau de felicidade, criando aglomerados de pessoas felizes. Além disso, ao longo do tempo, as pessoas ficam mais felizes quando passam a ser cercadas por outras felizes. Um amigo feliz que mora por perto (menos de 2 km) aumenta a chance de uma pessoa ser feliz em 25%, irmãos felizes por perto em 14%, e vizinhos em 34%. Esse efeito contagioso da felicidade diminui com o tempo e também com a distância entre as pessoas, e não é percebido entre colegas de trabalho. Também existe uma tendência do contágio social de sintomas depressivos entre amigos e vizinhos. O efeito parece ser mais marcante com amigas do sexo feminino.
5- O mesmo fenômeno foi demonstrado quando o assunto é consumo de bebidas alcoólicas. A quantidade de álcool que uma pessoa consome é proporcional ao tanto que seus amigos e parentes próximos bebem. O padrão de consumo de álcool de vizinhos e colegas de trabalho não tem a mesma influência. Aqueles que não bebem têm menos amigos e parentes que não bebem.
6- E é claro que com outras drogas não ia ser diferente. O efeito do contágio social no perfil de uso de drogas entre adolescentes chega a envolver quatro nÃveis da rede social. Também foi demonstrado esse contágio no número de horas diárias de sono e que há uma relação estreita entre a quantidade de sono o e o consumo de drogas. Quando uma pessoa dorme menos de sete horas por noite, a chance de um amigo dormir menos de sete horas é 11% maior. Quando um adolescente usa maconha, a chance de um amigo usar é 110% maior. Quando uma pessoa dorme menos de 7 horas, a chance de um amigo usar drogas aumenta em 19%.
Este é um novo modo de pensar a saúde. Qualquer intervenção positiva nos hábitos de vida de um indivÃduo pode se alastrar para a sua rede social. Há também o outro lado da moeda: comportamentos negativos também se difundem pela rede. É de se esperar que a internet amplifique cada vez mais esse poder, tanto para o lado positivo quanto negativo, mas o balanço geral certamente será um reflexo da eficiência das polÃticas públicas para a promoção de saúde da população. Christakis, que é considerado um dos cem pensadores mais influentes do mundo, não esconde sua indignação com a condução da pandemia durante o governo Trump.
Confira o áudio da coluna Cuca Legal, uma parceria do ICB com a Rádio CBN BrasÃlia: