Dinheiro pode trazer felicidade, mas só até certo ponto.

 De acordo com o paradoxo de Easterlin, economista americano que estudou essa questão em inúmeros países, depois de garantidas as necessidades mais importantes, mais dinheiro no bolso não atrai mais felicidade.

Por Dr. Ricardo Afonso Teixeira*

Na década de 1960, um estudo realizado em diferentes países capitalistas e socialistas perguntou o que as pessoas ainda precisavam na vida para serem realmente felizes. As respostas foram surpreendentemente parecidas, independentemente das diferenças culturais e econômicas entre os países analisados. A resposta mais comum foi a de melhoria do padrão de vida material, seguido por uma vida familiar feliz e em terceiro lugar o estado de saúde pessoal e dos familiares.

Será que as pessoas serão mais felizes se subirem um degrau na sua capacidade de consumo? Ganhadores da loteria voltam ao mesmo estado de felicidade que tinham antes do prêmio após um ano. Dinheiro e felicidade andam juntos até certo ponto, fenômeno conhecido como paradoxo de Easterlin, economista americano que estudou essa questão em inúmeros países. Depois de garantidas as necessidades mais importantes, mais dinheiro no bolso não atrai mais felicidade. Em 2018, uma pesquisa publicada na revista Nature Human Behaviour confirmou o paradoxo de Easterlein com uma população bastante generosa com dados do Instituto Gallup envolvendo 1,7 milhão de indivíduos em 164 países diferentes.

Os pesquisadores encontraram um teto de renda anual de 60 a 75 mil dólares para o bem-estar emocional, definido como sentimentos positivos no dia a dia. Valores maiores não incrementavam esses sentimentos. O mais curioso é que havia uma menor satisfação com a vida quando um teto de 90 mil dólares anuais era ultrapassado. Nessa situação, as pessoas podem entrar numa roda viva de consumo e cair na armadilha de ficar de olho na grama do vizinho.

Estudos têm apontado que os mais afortunados podem ficar menos sensíveis aos pequenos prazeres, às coisas mais prosaicas. O simples fato de se deparar com a imagem de um maço de notas de dinheiro é capaz de reduzir o tempo em que uma pessoa aprecia um pedaço de chocolate na boca antes de engolir. Nesse caso, as pessoas ainda relatam menos prazer com o chocolate do que aqueles que visualizam imagens neutras.

Gastar direito pode ajudar

Tem uma propaganda de automóvel que diz assim: “Quem fala que dinheiro não traz felicidade ainda não aprendeu a gastá-lo direito”. Já é bem reconhecido que gastar o dinheiro com experiências é melhor do que com coisas. Experiências que reforçam as relações de amizade, que promovem o crescimento pessoal, que contribuem para a comunidade onde se vive, pequenos prazeres como uma massagem, flores para a pessoa querida, tudo isso pode gerar mais prazer do que uma mega TV ou um turbo-super-carro.

Uma pesquisa muito interessante, publicada no prestigiado periódico PNAS, mostra que as pessoas que gastam dinheiro para ter mais tempo (e.g., serviços de casa) são mais felizes do que aquelas que gastam mais com coisas. O impressionante é que metade dos milionários estudados gastava tempo com atividades que não apreciavam e que poderiam ser feitas por outros, desde que pagassem por isso. Outro achado importante foi que o estado de bem-estar e felicidade esteve associado com essa opção de “comprar seu próprio tempo” em todo o espectro socioeconômico estudado, mesmo entre os que tinham as contas mais apertadas.

Por último, trago aqui uma análise realizada sobre a satisfação com a vida publicada no último mês pelo mesmo periódico PNAS. Foi demonstrada que a satisfação entre moradores de pequenas comunidades, em cinco diferentes continentes, incluindo populações indígenas, com baixíssimo poder aquisitivo, era semelhante ou até maior do que em diversos países considerados ricos, comparação feita com os dados do Instituto Gallup.

Todas essas pequenas comunidades tinham uma forte dependência dos meios naturais para a sobrevivência e, além desse contato íntimo com a natureza, outros fatores podem colaborar para esses altos índices de satisfação, mesmo com pouco dinheiro. Entre eles estão o modelo de comunidades mais coletivistas, menos individualistas, e até mesmo uma maior vivência espiritual. Indígenas da Amazônia brasileira foram um dos 19 grupos estudados.

Vale sempre lembrar que felicidade pode trazer dinheiro. Pessoas mais felizes têm mais chance de ter sucesso profissional e financeiro.

*Dr. Ricardo Afonso Teixeira é doutor em neurologia pela Unicamp, professor do curso de medicina do Unieuro e neurologista do Instituto do Cérebro de Brasília.

Matéria originalmente no site do Correio Braziliense.
Crédito foto:
PEXELS

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