A incerteza pode ser pior do que notícia ruim

Entre duas notícias, uma boa e outra ruim, a maioria escolhe a pior. Ter consciência de informações negativas é visto como traço de adaptação da espécie.


Quando alguém nos fala: tenho duas notícias pra contar, uma boa e outra ruim. Qual você quer ouvir primeiro? A grande maioria responde que quer ouvir a ruim antes. Reconhece-se que o ser humano tem uma tendência a dar mais atenção a informações negativas do que às positivas. Ter consciência de informações negativas, e presumivelmente ameaçadoras, pode ser visto como um traço de adaptação da espécie.

 

E o que dizer do incerto? Numa situação em que alguém nos diz: Tenho uma coisa para lhe contar. Você quer ouvir? Poucos devem duvidar que a maioria nessa situação diria: conta logo!

 

A incerteza é vista pela psicologia como a antecipação de uma ameaça pouco definida. Se a exposição a um estímulo negativo representa uma ameaça, a exposição ao desconhecido pode ser ainda mais ameaçadora, já que não se sabe o tamanho do inimigo (ou do amigo). Alguns estudos nos mostram que o suspense da incerteza gera mais alterações fisiológicas associadas à ansiedade do que o confronto a estímulos negativos bem definidos. As pessoas preferem um capeta conhecido a um capeta que ainda não conhecem.

 

Uma pesquisa recém-publicada pelo periódico Nature Communications confirma essa ideia. Voluntários mostravam mais sinais físicos de estresse quando estavam numa situação de expectativa do que quando já sabiam que o desfecho tinha grande chance de ser ruim. O estudo foi feito com um game em que os participantes tinham que atravessar um terreno pedregoso e ficar atentos a cobras. Caso encontrassem um cobra eles levariam um pequeno choque. Quando a chance de se deparar com uma cobra era de 50%, níveis máximos de estresse eram encontrados. Quando a chance era de zero ou 100%, os níveis de estresse caíam a níveis mínimos. Por outro lado, o estresse trouxe também seus efeitos benéficos. Quanto maiores os níveis de estresse maior foi a capacidade de fugir das cobras. O estudo foi conduzido por pesquisadores da Universidade de Londres.
Outra pesquisa publicada recentemente pela revista Nature Neuroscience revelou que os macacos também querem saber das coisas o mais rápido possível, e que do ponto de vista neuroquímico, esse acesso adiantado à informação é semelhante ao de outros tipos de recompensa cerebral. Neste caso, o experimento envolvia a recompensa de uma quantidade de água maior ou menor. Outras pesquisas têm mostrado que, quando o assunto em questão envolve uma experiência negativa, a preferência por acesso rápido à informação é ainda maior.

 

Confira o áudio da coluna Cuca Legal, uma parceria do ICB com a Rádio CBN Brasília:

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