Como a paternidade reforça o equilíbrio mental em alguns homens enquanto em outros enfraquece

Estudos revelam que experiências voltadas para a vida paterna são cruciais para a saúde mental de alguns homens.

A decisão de se tornar pai é uma das mais críticas que um homem pode tomar na vida. Há de se colocar na balança as repercussões na carreira profissional, finanças e, para muitos, até a relação conjugal. Quando se investiga o estado de bem-estar psíquico de um homem ao assumir o estado de pai, há um fenômeno chamado de paradoxo da paternidade. Alguns reportam uma influência negativa no humor, mais sintomas depressivos e mais estresse enquanto outros manifestam uma maior satisfação com a vida de forma geral. Anthony Vaccaro, uma liderança nessa linha de pesquisa, nos trouxe este mês na revista Scientific American preciosos resultados de pesquisas do seu grupo sobre o assunto.

Esses pesquisadores foram além das métricas que avaliam o nível de estresse associado às novas rotinas na paternidade, mas expandiram a análise para a abstração de que a vida pode fazer mais sentido, ser mais coerente, ou não. Já se conhecia que uma experiência de maior sentido na vida está associado a uma maior resiliência contra doenças da mente e do corpo, eventos traumáticos, como pandemias e guerras.

Os resultados apresentados por Vaccary mostram que a maioria dos pais apresentam um aumento do sentido na vida após seis meses do nascimento do filho, quando comparado à época da gestação. Pais de primeiros filhos foram submetidos a ressonância magnética funcional que mediu a sincronização entre diversas áreas cerebrais. Outros grupos de neurocientistas já haviam apontado que uma maior sincronização de áreas relacionadas às emoções e pensamento abstrato está associada à experiência de experienciar maior propósito na vida.

E Vaccary demonstra que pais que tiveram essa experiência de maior sentido tinham também maior sincronização cerebral, uma maior integração entre áreas cerebrais ligadas às emoções e estímulos sensoriais. Aqueles que tinham uma experiência mais negativa com a paternidade apresentavam respostas no córtex sensorial e cerebelo que podem estar associadas a uma hipersensibilidade emocional a informações sensoriais como, por exemplo, ao choro do seu bebê.

Considerando as novas rotinas do dia a dia que podem desafiar emocionalmente os pais, noites acordadas, por exemplo, o efeito negativo desses novos hábitos pode ser mitigado pela maior experiência de sentido no longo prazo também conhecida pelos cientistas como narrativa própria coerente.

Pesquisas têm nos apontado que adultos jovens sem filhos que julgam a paternidade algo grande para sua autorrealização têm menor satisfação com a vida à medida que atravessam os anos, mas esses são a minoria. Na maioria das vezes o cérebro se adapta.

*Dr. Ricardo Afonso Teixeira é doutor em neurologia pela Unicamp e neurologista do Instituto do Cérebro de Brasília.
Crédito foto: PEXELS

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