Conheça a doença de pequenos vasos cerebrais, chamada de cabelos brancos do cérebro

Isquemias cerebrais silenciosas podem ser encontradas em boa parte das pessoas acima dos 60 anos de idade

Por Dr. Ricardo Afonso Teixeira*

É bem ultrapassada a ideia de que usamos apenas uma pequena porcentagem do cérebro. Cada pedacinho de cérebro é relevante, sim. Entretanto, podemos dizer que algumas regiões do cérebro, quando destruídas, são capazes de provocar sintomas mais perceptíveis que outras. Algumas regiões até podem ser destruídas e o indivíduo nem se dá conta de que algo aconteceu. E essa não é uma situação incomum no cérebro que envelhece: isquemias cerebrais silenciosas podem ser encontradas em boa parte das pessoas acima dos 60 anos de idade.

Quando se fala em lesões que chegam a provocar uma minúscula cavitação no cérebro, estudos com ressonância magnética revelam que cerca de 20% dos idosos apresentam tais lesões sem nunca ter apresentado sintomas relacionados. Quando se fala em lesões de pequeninas cicatrizes no cérebro, estas estão presentes em até 90% dos idosos. Essas cicatrizes aparecem na ressonância magnética como pontinhos brancos e são chamadas por alguns de cabelos brancos do cérebro. Quem é que ultrapassa cinco ou seis décadas de vida sem qualquer cabelo branco?

No conjunto, essas pequenas lesões fazem parte daquilo que se chama de doença de pequenos vasos cerebrais. Uma ou duas pequenas cicatrizes realmente não costumam provocar sintomas, mas o cérebro de um indivíduo que apresenta inúmeras dessas cicatrizes ou pequenas cavitações, este sim começa a funcionar de forma ineficiente. Algumas pessoas chegam a apresentar dificuldades graves do pensamento e da marcha, e hoje reconhece-se que essa entidade seja uma das principais responsáveis por deficit cognitivo entre os idosos. Existem fatores genéticos que determinam o quanto de lesões terá um cérebro que envelhece. Entretanto, é bem sabido que os conhecidos fatores de risco para aterosclerose (ex: hipertensão arterial, diabetes, tabagismo, etc.) aumentam significativamente a chance de uma pessoa colecionar mais dessas lesões ao longo dos anos.

*Dr. Ricardo Afonso Teixeira é doutor em neurologia pela Unicamp, professor do curso de medicina do Unieuro e neurologista do Instituto do Cérebro de Brasília.

Matéria originalmente no site do Correio Braziliense.
Crédito foto:
PEXELS

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