E agora mais esta: psicoterapia pela inteligência artificial. Isso é eficaz e seguro?
Por Dr. Ricardo Afonso Teixeira*
Nos últimos meses ouvi alguns relatos de pessoas que procuraram o ChatGPT como se fosse um psicoterapeuta. A maioria revelou uma experiência positiva o que não é surpreendente. Advoga-se que esses chatbots generalistas, como o ChatGPT, são codificados para que o usuário fique na plataforma o maior tempo possível. E por ser este o modelo de negócio, a plataforma pode ter o viés de validar e reforçar as ações do usuário.
Ela não julga e não coloca o dedo na ferida. Na última edição da revista Scientific American, Vaile Wright, psicólogo e diretor da divisão de Inovação em Saúde da Associação Americana de Psicologia alerta para os riscos envolvidos no uso desses chatbots para psicoterapia, mas também para a necessidade de comprovação de eficácia. Primeiro ele pontua que essas plataformas não têm nenhuma obrigação legal de proteger os dados. Psicólogos têm que seguir a diretrizes éticas do seu conselho de classe e isso inclui o sigilo.
Imagine você tratar do assunto de sua dependência a drogas com o ChatGPT e essas informações vazarem e caírem nas mãos do seu chefe. Quanto à questão de eficácia, é citado o Therabot, um software de inteligência artificial desenvolvido especificamente para apoio psicológico pela Universidade de Dartmouth, nos EUA. Foram publicados este ano, no prestigiado New England Journal of Medicine, os resultados de uma intervenção por 8 semanas com o Therabot. Os achados pioneiros foram considerados comparáveis aos resultados da psicoterapia cognitivo comportamental.
Pacientes com transtorno depressivo melhoraram em 51% dos seus sintomas, aqueles com transtorno de ansiedade generalizada tiveram melhora de 31% e os com transtorno alimentar apresentaram 19% na redução de preocupação de imagem corporal e peso. Além disso, eles reportaram uma ótima aliança terapêutica com o Therabot, demonstrado pela confiança e colaboração com o software. O Therabot começou a ser desenvolvido em 2019 com consultoria contínua de psicólogos e psiquiatras e os autores do estudo defendem a ideia que ele veio para somar e não para substituir a terapia convencional.
Deixam claro que chatbots com a função de psicoterapia ainda estão numa fase muito crítica em que é preciso demonstração mais robusta de seus riscos e eficácia clínica. Porém, os resultados do Therabot abrem os horizontes para apoio psíquico para tantas pessoas que jamais conseguiriam ter acesso a um psicoterapeuta e para aqueles que precisam de um apoio imediato. Nos EUA, calcula-se que para cada psicoterapeuta existem 1600 pessoas com os diagnósticos de ansiedade e depressão.
Em todos esses casos que vi nos últimos meses fazendo “psicoterapia” com o ChatGPT, todos acessavam uma única vez com esse propósito e já abandonavam. E todos tinham todas as condições logísticas para estar com um psicoterapeuta. Pode ser a efervescência da curiosidade pela novidade. Se o Therabot que foi desenvolvido junto a profissionais da saúde mental ainda precisa passar por validação, imagine o ChatGBT. O Therabot até acende um botão na tela para acesso a versões americanas do SAMU ou CVV (Centro de Valorização da Vida) no caso de conteúdos de alto risco, como ideação suicida.
*Dr. Ricardo Afonso Teixeira é doutor em neurologia pela Unicamp e neurologista do Instituto do Cérebro de Brasília.
Crédito foto: PEXELS






