Seu cérebro pode dizer quem são os seus amigos.
Vivemos em rede desde os mais remotos tempos e o sucesso da espécie humana depende de sua capacidade em fazer relações sociais, capacidade que é vista como uma vantagem evolutiva. IndivÃduos no centro de uma rede social têm mais acesso à informação, e no caso dos nossos ancestrais, essa informação poderia ser, por exemplo, o local de uma nova fonte de alimento. Entender melhor como funciona as redes sociais permite-nos entender também como elas podem influenciar importantes problemas de saúde pública, área recente do conhecimento chamada de epidemiologia social. Nos últimos anos, riquÃssimos estudos nessa área vêm sendo publicados por pesquisadores da Universidade da Califórnia (Fowler GH) e de Harvard (Christakis NA) junto a outros colaboradores nos mais renomados periódicos cientÃficos do mundo.
Como os amigos têm influência em nossas vidasÂ
2- Esse mesmo efeito de contágio social existe na chance que uma pessoa tem de parar de fumar. Quando um dos membros de um casal para de fumar, o outro tem uma chance 67% maior de parar também. O indivÃduo tem 25% mais chances de parar quando um irmão/ irmã também para, 36% mais chance quando um amigo para e 34% mais chance quando um colega de trabalho para.
3- O contágio social também existe na capacidade de uma pessoa se considerar feliz (BMJ) . Há uma tendência de pessoas felizes estarem no centro de suas redes sociais e próximas de outras com alto grau de felicidade, criando aglomerados de pessoas felizes. Além disso, ao longo do tempo, as pessoas ficam mais felizes quando passam a ser cercadas por outras felizes. Um amigo feliz que mora por perto (menos de 2 km) aumentava a chance de uma pessoa ser feliz em 25%, irmãos felizes por perto em 14%, e vizinhos em 34%. Esse efeito contagioso da felicidade diminui com o tempo e também com a distância entre as pessoas, e não foi percebido entre colegas de trabalho. Também existe uma tendência do contágio social de sintomas depressivos entre amigos e vizinhos. O efeito parece ser mais marcante com amigas do sexo feminino.
4- O mesmo fenômeno foi demonstrado quando o assunto é consumo de bebidas alcoólicas. A quantidade de álcool que uma pessoa consome é proporcional ao tanto que seus amigos e parentes próximos bebem. O padrão de consumo de álcool de vizinhos e colegas de trabalho não tem a mesma influência. Aqueles que não bebem têm menos amigos e parentes que não bebem.
5- E é claro que com outras drogas não ia ser diferente. O efeito do contágio social no perfil de uso de drogas entre adolescentes chega a envolver quatro nÃveis da rede social. Também foi mostrado esse contágio no número de horas diárias de sono e que há uma relação estreita entre a quantidade de sono o e o consumo de drogas. Quando uma pessoa dorme menos de 7 horas por noite, a chance de um amigo dormir menos de sete horas é 11% maior. Quando um adolescente usa maconha, a chance de um amigo usar é 110% maior. Quando uma pessoa dorme menos de 7 horas, a chance de um amigo usar drogas aumenta em 19%.
Os mesmos pesquisadores publicaram um estudo revelando que, numa epidemia infecto-contagiosa, indivÃduos mais ao centro da rede social são acometidos mais precocemente. Esse achado pode facilitar o controle de epidemias ao se focar os esforços precocemente em indivÃduos mais vulneráveis.
Este é um novo modo de pensar a saúde. Qualquer intervenção positiva nos hábitos de vida de um indivÃduo pode se alastrar para a sua rede social. Há também o outro lado da moeda: comportamentos negativos também se difundem pela rede. É de se esperar que a internet amplifique cada vez mais esse poder, tanto para o lado positivo quanto negativo, mas o balanço geral certamente será um reflexo da eficiência das polÃticas públicas para a promoção de saúde da população.
Confira o áudio da coluna Cuca Legal, uma parceria do ICB com a Rádio CBN BrasÃlia: