Fracassos fazem parte da vida, mas podemos usá-los a nosso favor
Semana passada, apareceu para mim uma matéria sobre o sucesso de bolinhos, também conhecidos por Bentô Cakes, só que agora com frases irônicas, bem-humoradas, para comemorar as pequenas derrotas. Isso tomou conta das redes sociais com celebrações que vão desde o divórcio à reprovação em uma prova de concurso. É de certa forma uma libertação da pressão pelo sucesso. Vocês já devem ter ouvido uma frase do psicanalista Contardo Calligaris que dizia que ter uma vida feliz é pouco. Devemos buscar uma vida interessante, e isso inclui, claro, vales e montanhas no percurso. Vida sem insucessos não existe, e a ciência tem nos mostrado como usá-los a nosso favor.
Quando pensamos em sucesso vem às nossas mentes conceitos como boas ideias, trabalho duro, disciplina, criatividade, imaginação, perseverança e até sorte. O que uma pesquisa recente publicada pela Nature nos aponta é que os fracassos devem fazer parte dessa lista também. Mas não é qualquer fracasso. São aqueles que nos aprimoram para as próximas tentativas, e estas não devem demorar a acontecer.
Os autores do estudo mostram que o que separa os “winners” dos “losers” não é a persistência. Ambos tentam o mesmo número de vezes para alcançar o objetivo, só que os “winners” chegam lá. Eles trabalham duro da mesma forma, mas de forma mais esperta. Os fracassos servem de guias para o aperfeiçoamento para a próxima jogada. Não agem com impulsividade diante de uma batalha perdida. Estão pensando em vencer a guerra. Os “losers” não necessariamente trabalham menos, mas fazem mudanças de táticas além do necessário.
Outro ponto que diferenciava os projetos de sucesso era a rapidez com que as novas tentativas aconteciam. Quanto mais rapidamente você perceber o fracasso e se organizar para uma próxima investida, melhor. O orientador da minha tese de doutorado, Fernando Cendes, me introduziu esse conceito de forma muito convincente. “Ricardo, se você não encontrar os resultados que procura nessa amostra de 20 indivíduos, não adianta procurar em outros 100. Mude sua tática”.
Por Prof. Dr. Ricardo Teixeira
Matéria e imagem publicadas originalmente no site do Correio Braziliense.