Para se ter uma boa conversa, não é necessário que todos concordem
Um método de ressonância magnética funcional tem nos mostrado que, durante uma conversa, duas pessoas podem ter mais prazer quando as opiniões são divergentes, quando não há sincronização da atividade cerebral entre os dois cérebros, pois estão em um modo de exploração curiosa. Poderiam ter a atitude de convencer o outros de que sua forma de pensar é a certa ou buscar apenas discutir aquilo que certamente haveria consenso entre as partes. Entretanto, a exploração das opiniões diferentes pode gerar mais prazer e ser mais produtiva.
Nesse modo de exploração, os cérebros não estão tão sincronizados como na situação de concordância sobre o tema em discussão. IndivÃduos que são politicamente de direita têm os cérebros mais sincronizados com outros de direita quando assistem a vÃdeos com conteúdo polÃtico. O mesmo acontece com os cérebros dos esquerdistas, mas não ocorre entre pessoas com pessoas de inclinações polÃticas opostas. Pessoas conhecidas já iniciam uma discussão com uma boa sincronização, enquanto estranhos vão crescendo essa sincronia no curso da conversa.
Mas uma dessincronização começa a acontecer à medida que a conversa abrange mais tópicos e as diferenças de opinião afloram. Isso está associado a uma maior satisfação na conversa. Esse modelo que garante a opinião pessoal sem deixar de captar a opinião diferente, o modo de exploração como nos referimos anteriormente, é visto pela literatura como o modo de discussão francês: delicado, elegante, brilhante, harmonioso, uma arte (Au contraire! Figuring out the french. Asselin G, Martron R. Intercultural Press, 2001).
A revista Scientific American Mind and Brain trouxe na sua última edição um apanhado dos achados dessa área do conhecimento, abrindo os horizontes para a promoção de oportunidades para mitigar o fenômeno da polarização que existe nos EUA, mas também aqui. O aperfeiçoamento da interação entre duas pessoas, a princÃpio, não mudará o mundo. Entretanto as instituições, a mÃdia, as indústrias, os governos são feitos de pessoas, e a comunicação eficiente entre as partes pode fazer muita diferença.
Não precisa nem apelar para a busca de boa energia apontada recentemente pelo presidente Trump no seu encontro de poucos segundos com Lula. Basta garantir a escuta, manter a originalidade e o espÃrito analÃtico em vez de ficar evitando as controvérsias ou ficar forçando a barra com o seu modo de ver as coisas.
*Dr. Ricardo Afonso Teixeira é doutor em neurologia pela Unicamp e neurologista do Instituto do Cérebro de BrasÃlia.
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