Dez minutos de atividade física já deixa o cérebro mais eficiente

A cada dia temos mais evidências de que o cérebro lucra e muito com o hábito da atividade física regular. E isso é verdade desde a infância até idades bem avançadas.


Um estudo recém-publicado por pesquisadores japoneses na prestigiada revista Scientific Reports aponta que dez minutos de atividade física moderada deixa o cérebro com melhor desempenho e maior atividade em regiões estratégicas para as funções executivas, além de um melhor estado de humor. Pesquisas do mesmo grupo já haviam demonstrado o efeito positivo sobre a cognição após atividade moderada e breve na bicicleta, mas a melhora do estado de humor só aconteceu na corrida. Atividade física moderada foi definida como 50% do consumo máximo de oxigênio.  

A cada dia temos mais evidências de que o cérebro lucra e muito com o hábito da atividade física regular. E esse benefício já começa em idades precoces. Ao contrário do que já se chegou a cogitar, o tempo gasto com atividade física na escola promove mais sucesso acadêmico do que se o jovem direcionasse esse tempo de atividade física para mais atividades na sala de aula.

Os efeitos da atividade física também têm sido muito bem estudados no processo de envelhecimento cerebral sugerindo um efeito neuroprotetor. Uma série de pesquisas tem revelado que a atividade física em idosos melhora o desempenho cognitivo. Os efeitos positivos podem ser observados em diversas dimensões da cognição e de forma mais marcante sobre as funções executivas que incluem, por exemplo, a memória operacional (de curto prazo), a capacidade de planejamento, de tomada de decisão e de dar atenção a mais de uma coisa ao mesmo tempo. Já dispomos também de um bom corpo de evidências de que a atividade física em idosos reduz o risco de desenvolver a Doença de Alzheimer e a Demência Vascular, ou pelo menos adia seu aparecimento.

Os ganhos no cérebro já foram demonstrados através de variáveis fisiológicas que vão desde o aumento da perfusão sanguínea, metabolismo e tamanho do cérebro em determinadas regiões, até a modulação de sua própria atividade elétrica. Em animais as pesquisas chegam ao nível celular e molecular. Ratinhos que se exercitam criam novos neurônios e conexões em uma das regiões mais importantes do cérebro no que se refere à memória: o hipocampo. Novos vasos sanguíneos também são criados no hipocampo assim como em outras regiões cerebrais. O exercício estimula também a produção do Fator Neurotrófico Derivado do Cérebro, e isso foi demonstrado também em humanos. Esse fator é responsável pela saúde dos neurônios e está associado à capacidade de aprendizado e memória. Até mesmo ratinhos recém-nascidos de mães que se exercitaram durante a gravidez têm mais neurônios no hipocampo do que aqueles de mães sedentárias. Para quem não sabe, uma das primeiras regiões cerebrais afetadas pela Doença de Alzheimer é o hipocampo, doença que promove redução do número de neurônios dessa região.

O exercício físico ainda é capaz de promover ativação de secreção de diversas substâncias no cérebro como endorfina e endocanabinoides, que podem provocar, além do efeito imediato de euforia e redução da percepção de dor, a modulação do funcionamento químico do cérebro de forma mais sustentada. Essa é uma das formas de explicar resultados de pesquisas que mostram que a atividade física tem o poder de reduzir a chance de uma pessoa vir a desenvolver depressão. O interessante desses estudos é que esse poder é bem mais robusto no caso da atividade física associada ao lazer do que ao trabalho. Sabemos que o lazer, independente de estarmos nos mexendo, já é capaz de recompensar quimicamente o cérebro levando ao bem-estar psíquico. Um dos componentes que ajudam a ativar esse bem-estar é a interação social vinculada a boa parte das atividades de esporte e lazer.

*Dr. Ricardo Teixeira é neurologista e diretor clínico do Instituto do Cérebro de Brasília

 
 
 

Confira o áudio da coluna Cuca Legal, uma parceria do ICB com a Rádio CBN Brasília:

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